domingo, 6 de outubro de 2013

A Igreja e a Ditadura

CONTEXTUALIZANDO

·         Década de 60

Durante a Guerra Fria, havia um forte clima de tensão no Brasil, alguns desejando que o país adotasse um regime comunista e outros preocupados de que isso ocorresse. A Igreja Católica, particularmente, temia o Comunismo pelo fato de ser uma política que prega o ateísmo e cujo regime impediria que os fiéis pudessem exercer sua Fé de forma plena. Por tal, apoiou a "Caminhada com Deus em Família pela Liberdade" e, muitos podem dizer, foi a favor do Golpe de 64.
Já com o regime instalado, e percebendo as violações aos direitos humanos, as repressões a diversas instituições e a censura que se fazia na mídia, alguns integrantes da Igreja optaram por envolver-se e atuar na política contra a ditadura, adotando medidas mais progressistas.

Dentro da Igreja começaram a surgir, então, duas posições: uma que defendia uma mudança radical, e outra que defendia a tradição da Igreja e a concepção de Fé original e propagada ao longo dos séculos. É importante dizer que essas posições prevaleceram entre 1963 e 1964, até que os modernistas conservadores ganharam as eleições da CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos), "derrotando" os progressistas.

A partir daí, diversas transformações ocorreram na instituição, inclusive por conta da reformulação no Catecismo que houve pelo Concilio do Vaticano II, acontecido entre 1962 e 1965.
Em 1968, na Colômbia, houve uma conferencia com o intuito de aplicar na América Latina as mudanças propostas pelo Concilio.
Dentre todas as propostas, enfocaram:

- a opção pelos pobres, no sentido de a igreja defender os direitos e denunciar as injustiças;
- a libertação integral, o que implicava em críticas ao capitalismo;
- a escolha das comunidades eclesiais de base (conhecidas como CEBs), como o lugar chave para o encontro das classes que mais necessitavam de ajuda.



Essas CEBs não estavam ligadas apenas à caridade propriamente dita, pois também eram lugares de reflexão, ou seja, a população deveria realizar a sua mudança também internamente.

Visando, assim, aumentar o contato entre os clericais e o povo, surgiram, além das comunidades eclesiais, a JOC (Juventude Operária Católica), a JUC (Juventude Universitária Católica), o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), a CJP (Comissão de Justiça e Paz) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra).


·         Década de 70


Na década de 70, a ditadura entrava numa nova fase, por um lado pela institucionalização do AI-5, aumentando a repressão, e por outro pelos diversos projetos econômicos e sociais introduzidos no país, com o chamado "milagre econômico".

 Alguns dos integrantes da Igreja ligados ao Estado e aos grupos dominantes passaram a se aproximar das classes mais baixas. Sentindo a necessidade de pensar num novo papel social da Igreja, passaram a adotar uma nova teologia que vinha sendo desenvolvida, a Teologia da Libertação. Esta existia desde 1952, mas ganhou força no Brasil com o endurecimento do regime militar no final da década de 60.
Com a adoção de posições mais críticas pela Igreja e pela CNBB, esta, no ano de 1970, divulgou um documento que dizia:

"Não podemos admitir as lamentáveis manifestações da violência, traduzida nas formas de assaltos, sequestros, mortes ou quaisquer outras modalidades de terror. Pensamos primeiramente no exercício da JUSTIÇA, que, sinceramente, cremos estar sendo violentado, com frequência, por processos levados morosa e precariamente, por detenções efetuadas em base a suspeitas ou acusações precipitadas, por inquéritos instaurados e levados adiante por vários meses, em regime de incomunicabilidade das pessoas e em carência, não raro, do fundamental direito de defesa. Seríamos omissos se não frisássemos, neste momento, nossa posição firme contra toda e qualquer espécie de tortura."

(Documento da Décima Primeira Assembléia Geral da CNBB, SEDOC, 3 (1970-1971): 85-86 APUD MAINWARING Igreja Católica e Política no Brasil (1916-1985). São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.p.130.)


A partir do momento em que a Igreja estreitou seus laços com os outros segmentos sociais, principalmente as classes populares, e passou a se levantar contra o regime, diversos membros passaram a ser perseguidos e serem alvos da repressão policial.

A Igreja passava por um processo de modernização, revendo suas posições, criando uma nova identidade e desejando combater as injustiças de forma mais próxima dos fiéis. Estas mudanças ocorreram tanto na América Latina quanto no Brasil, por conta dos contextos políticos e sociais que vivenciavam. Isso não ocorreu de forma linear, o que torna difícil explicar as diferentes posições tomadas pela Igreja no Brasil.