sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A mídia nos anos de chumbo






Para entendermos a proliferação dos movimentos da imprensa alternativa no Brasil na década de 1970, é preciso descrever o cenário econômico-sócio-político da era da ditadura.


Após a decretação do Ato Institucional nº 5 em dezembro de 1968 com centenas de políticos cassados, lideranças sindicais e estudantis presas e a dissolução do Congresso Nacional, instalou-se uma radical censura dos meios de comunicação no país, ficando a imprensa impedida de publicar qualquer matéria de conteúdo político ou de crítica ao regime.


Alguns jornalistas produziam uma imprensa de oposição ao governo, como a revista Veja, lançada em 1968, que tinha em sua equipe muitos jornalistas combativos, mas que sofreu rigorosa censura, tendo algumas de suas edições recolhidas das bancas, por publicar matérias referentes ao endurecimento do regime militar e à tortura de presos políticos.


Pequenos jornais alternativos surgiram nessa época, denunciando abusos de poder como a violação dos direitos humanos e a tortura. Esses periódicos foram instrumentos de resistência e espaço público no período da abertura política.


Neste contexto, a Rede Globo de televisão tornou-se o modelo padrão de qualidade, a partir da primeira exibição do Jornal Nacional em 1º de setembro de 1969, em cadeia Nacional.





A tentativa de integração nacional por intermédio de uma política cultural, era o objetivo dos governos militares, principalmente nos governos Médice (1969-1974) e Geisel (1974-1979). Essa prática criava a possibilidade de integração através da unificação da linguagem do consumo e da ideologia, acabando por instaurar uma hegemonia dos costumes e comportamentos fabricados no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, para todo o território brasileiro. Eliminou-se com isso qualquer possibilidade de veiculação de programas regionais, facilitando assim o controle e a censura dos programas televisivos.


Esse novo padrão estético ditava normas para o telejornalismo, eliminando-se informações sobre a miséria, o atraso econômico e cultural, a degradação das condições de vida dos trabalhadores, criando o" Padrão Globo de Qualidade", contaminando também setores da produção cultural e artística produzida no país, além de veicular propagandas do governo como "o milagre econômico brasileiro" e alguns comerciais encomendados, com seus jingles repetitivos de louvor ao Brasil.


Com o aumento do controle dos meios de comunicação, programas são proibidos e algumas emissoras de televisão saem do ar.





A Rede Globo, amparada pela ditadura, vai beneficiar-se de toda uma revolução tecnológica em curso, colocando-se como líder no processo dessa modernização, projeto que caracterizava o novo estilo de telejornalismo da década de 1970, pregando o ideal do progresso material em termos conservadores, sem distribuição da renda. A escolha dos profissionais que deveriam assumir cargos em empresas jornalísticas estava sujeita à aprovação dos órgãos de segurança.


Tentativas de renovação do telejornalismo brasileiro foram duramente atacadas, como foi o caso do jornalista Vladimir Herzog, à época diretor da TV Cultura de São Paulo, que em 1975 foi preso, torturado e morto no DOI-CODI paulista.


Com o cerceamento da liberdade de expressão e o controle censório e sistemático da grande imprensa, desencadeou-se um movimento alternativo de informação, surgindo no Brasil, durante a ditadura, cerca de 150 periódicos regionais e nacionais de oposição ao regime militar, que forçaram debates de temas políticos, econômicos, sociais e culturais, em contraponto à grande mídia que era acusada de colaborar e se beneficiar com o golpe de 1964, além de não fornecer um noticiário crítico ao regime imposto ao país.





Já havia desde o começo da década, a circulação de jornais dos partidos e organizações clandestinas como a Tribuna da Luta Operária do PC do B; A Hora do Povo, do MR-8; a Voz da Unidade, do PCB, entre outros.





Em junho de 1969 surgiu "O Pasquim", semanário que atingiu a marca de 200.000 exemplares, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.





Em 1972 chegaria às bancas o Jornal "Opinião" de Fernando Gasparian, empresário nacional, dono da América Fabril, uma das mais importantes empresas nacionais, abordando assuntos econômicos e sociais, tendo em seu quadro destacados grupos de jornalistas, sociólogos e economistas.


Surgido em 1974 o semanário, o "Movimento", emergiu de uma dissidência do Jornal "Opinião", integrando várias tendências políticas sob a liderança do chamado grupo autêntico do MDB que fazia oposição ao Regime militar. Pode-se afirmar que o jornal "Movimento" surgiu em meio de um grande movimento de massas que uniu o povo brasileiro, desaguando nas "Diretas já".


Para viabilizar tal edição, o periódico obteve o apoio dos movimentos populares, tendo sido criada uma empresa formada com modestas contribuições de centenas de militantes políticos das mais diferentes matizes, viabilizando assinaturas e ampla venda nas bancas de várias cidades brasileiras.





Os jornais alternativos surgiram num momento de modernização das gráficas, com recursos do off-set, com um visual moderno, em formato de tabloide, contrapondo-se ao formato conservador e antiquado da imprensa tradicional, apesar dos escassos recursos, organizados por pequenos grupos de jornalistas que traziam as suas colaborações e a seleção era feita sem muito critério, cabendo poemas, entrevistas, debates políticos, filosofia, economia, adquirindo assim um caráter de porta-voz dos movimentos da esquerda brasileira.


Principais periódicos alternativos da época:


O Pasquim - 1969


O Bondinho - 1970


Polítika - 1971


Opinião - 1972


Movimento - 1974


Versus - 1975


Brasil Mulher - 1975


Repórter - 1977

Em Tempo - 1977